Revista de Imprensa

 

O Desenvolvimento do Golfe em 1999

Por, António Carmona Santos

 

Em 1998, o golfe continuou a desenvolver-se em todo o mundo com taxas de crescimento impressionantes para ambos os sexos e em todas as idades - e que indicam que no próximo século o golfe será um jogo para "toda a gente"! Desde que exista uma base sólida de desenvolvimento (campos, clubes, professores, e associações competentes), não há nada que o detenha: em todos os países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, há uma atracção irresistível pelo golfe. E entre nós, como vai o golfe? Infelizmente, não há muitos motivos para contentamentos...

Continuamos a ter muitas potencialidades e a ser escolhidos por alguns estrangeiros para nos visitarem quando nas suas terras não se pode jogar por questões climatéricas. Por enquanto contentamo-nos em vender bilhetes para a "festa", mas são poucos os nossos que nela participam. Há quem esteja muito satisfeito com os nossos supostos progressos. Por mais que se queira ser construtivo, não parece sadio alimentar um falso optimismo. É com certeza mais útil apontar os defeitos, para que se tentem emendar, do que estarmos todos muito contentinhos a gabarmo-nos uns dos outros. Isso não serve para enganar ninguém que conheça um mínimo destas coisas: 6200 praticantes (o menor número dos países da CE à excepção do Luxemburgo e da Grécia e muito longe dos 27.000 da Bélgica, 60.000 da Dinamarca ou dos 85.000 da Holanda, tudo países da nossa dimensão ... para não falar dos outros), 64 clubes ... dos quais só cinco têm campo próprio e 40 têm menos de 100 associados! É sintomático que o maior clube português, com 628 sócios federados, seja composto em 95% por estrangeiros, a maioria dos quais nem sequer vive em Portugal todo o ano; sem um único título internacional em amadores e sem um único profissional com acesso ao Circuito Europeu; sem professores diplomados; sem existir qualquer curso de golfe nos programas oficiais; sem nenhuma jogadora com handicap abaixo de 5 e com os melhores amadores a emigrarem constantemente para tentarem progredir; sem um plano de desenvolvimento nacional para além dos programas que embora bem intencionados não passam de acções desgarradas que não estão assentes em bases sólidas e participadas por todos, não é possível falar-se em progresso real.

O desenvolvimento do golfe sempre se apoiou num núcleo fundamental que são os Clubes. Sem haver Clubes a participar activamente nos programas de fomento e sem acesso daqueles aos campos existentes, não se consegue progredir. É nos Clubes que se ministra o ensino. È nos Clubes que os novos praticantes aprendem os segredos do jogo, os seus usos, a forma de se comportarem e, de uma maneira geral, a lidarem com ele. Não basta aprender vagamente a bater na bola, jogar um ou outro torneio comercial e comprar uma calças aos quadrados e um boné. O golfe é muito mais do que isso e ninguém nasce ensinado. Mas é preciso que alguém ensine. Essa prática tem que partir de uma estrutura que passa pelos Clubes, Associações e Federação. Sem ela não chegamos lá; seremos sempre pretendentes a comerciantes do golfe para uso turístico. Mas mesmo no aspecto comercial não há desenvolvimento substancial se não houver uma cultura local de golfe. Sem praticantes nacionais em grande número e de qualidade, o golfe em Portugal não cresce. Tanto os portugueses como os estrangeiros que nos visitam têm de ter acesso a campos bem tratados e organizados; isso só se consegue se nesses campos houver uma estrutura de gente interessada que fiscalize e dinamize os processos de desenvolvimento, quer de jovens quer de seniores. Nesse aspecto, o que melhor funciona é o Clube. Se queremos fazer crescer o golfe em Portugal temos de envolver nisso todos os interessados. A tarefa é grande demais para ser executada só por alguns "iluminados".

Em 1999 haverá eleições na FPG. Ela é a Federação dos Clubes. Seria bom que aparecesse uma Federação totalmente dedicada ao apoio e desenvolvimento do espírito de Clube. As Federações Têm de saber resistir à tentação de se substituírem aos Clubes. Programar, controlar e apoiar é muito diferente de executar. A Federação não precisa de ser grande e ter muito pessoal, basta-lhe atrair boas vontades e competências privadas e oficiais, coordenar programas bem estruturados e tentar obter o maior volume possível de recursos, canalizando-os a seguir para os Clubes que terão de executar os programas sob o seu controlo, tudo integrado em planos nacionais. A Federação não tem que explorar campos de golfe, nem gerir programas de fomento. Essa missão compete aos Clubes apoiados por ela. As massas associativas desses Clubes sabem melhor do que ninguém o que lhes convém e como os devem executar. A principal missão do novo elenco federativo será a de colaborar com os Clubes existentes, apoiando-os tecnicamente e no seu processo de crescimento, ajudando-os, sobretudo, a terem acesso aos campos existentes em condições vantajosas. Em contrapartida, ser-lhe-ia pedida ajuda para os programas que forem, entretanto, sendo criados.

Por último e como medida salutar, não querendo deixar de ser directo, sugiro que se modifiquem os estatutos da federação Portuguesa de Golfe, de modo a que um Presidente não possa exceder mais do que dois mandatos. È prática corrente e sensata e faz parte da tradição de muitas instituições prestigiosas, incluindo s República Portuguesa e muitos Clubes de golfe com grande prestigio em todo o mundo. È sempre sadio chamar, às missões difíceis e espinhosas, todos os que têm alguma coisa para dar. Não é justo que sejam sempre os mesmos a fazer o trabalho todo. E como estamos numa de globalização ... aqui vai o alvitre.

 

Golfe Europeu nº 46 Dez/Jan 1999


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Revised: 10-11-2000.