Revista de Imprensa

 

Os Incendios e o Golfe

Por, António Carmona Santos

 

Portugal, neste Verão, ardeu quase todo. Já deviamos estar habituados. Com maior ou menor intensidade, isto vem acontecendo, todos os Verões, desde que me lembro. Claro que agora tudo é mais badalado e portanto mais importante. Segundo o que dizem os diversos noticiários, até parece que há mais calor, as áreas ardidas são maiores, os incendiários são mais sofisticados e as responsabilidades mais próximas dos órgãos de poder. Até, para se ser mais actual, deveríamos criar um Ministério da Tutela. Neste caso, devia chamar-se por exemplo o Ministério dos Fogos. Quanto mais importantes são as coisas, mais se justifica que tenham o enquadramento devido. Para confirmar isto tudo, analisem-se os números na sua inexorável frieza. Este ano, em Portugal, houve 36 mil fogos, segundo uns, ou 22 mil, segundo outros. Arderam 60 mil hectares, segundo uns, ou 80 mil, segundo outros. Isto quer dizer que se as suspeitas generalizadas forem verdadeiras, há entre nós muitos milhares de incendiários, ou então alguém é muito competente a fazer estas maldades e deveria ser aproveitado para realizar coisas mais agradáveis. Para além disso, actua a nível nacional, uma vez que tão depressa os fogos são em Monchique, no Algarve, como no Barroso, em Trás-os-Montes, passando pela Serra do Caramulo.

Desculpem-me mas, embora pareça incrível, estes números e estes factos fazem-me pensar em golfe. Parece estranho, mas não é. O golfe também deveria ser pensado a nível nacional e ser praticado em todo o nosso território. O golfe também devia ter milhares de pessoas a ocuparem-se dele ou então alguns, muito competentes e trabalhadores. Até penso que, dada a sua importância, talvez pudesse ser criado o Ministério do Golfe, ou pelo menos, para começar, entregar a responsabilidade da sua orientação a dois novos Ministérios a serem criados: o do Turismo e o dos Desportos.

Sonhar não custa nada... Voltando aos incêndios e ao golfe, para além das imensas vantagens que já temos enumerado em outras ocasiões, convém lembrar que é um óptimo corta-fogos. A relva não arde e ainda por cima, à semelhança dos incêndios mas por motivos diferentes, tem de ser regada. Os percursos de golfe, quando implantados em florestas, interrompem a propagação dos fogos e não deixam que os mesmos alastrem para zonas vizinhas. Não sei se os críticos do desenvolvimento do golfe têm ideia que os 60 mil hectares ardidos dariam para se construírem (nem sei se ouso dizer)... 1000 campos de golfe! Quando sabemos que houve muita gente que se escandalizou por, estarem hipotéticamente projectados, 80 campos para o Alentejo, ficamos com a noção de que ainda tem de arder muita coisa neste país para que certos assuntos sejam encarados sem preconceitos. O que tem de ser acaba por acontecer mais cedo ou mais tarde. Mas nós em geral exageramos na lentidão com que fazemos as coisas. Para exemplo, vejamos o que aconteceu com o aproveitamento do Tejo, para gozo e divertimento das pessoas. Andou-se séculos a desejar fazer alguma coisa parecida com uma esplanada sobre o Tejo com o singelo argumento que se calhar era bonito e agradável. Finalmente alguém ousou e o que é mais importante e sempre indispensável, entre nós; alguém autorizou. Está à vista o resultado. Abriram-se quatro bares e alguns cafés e está lá tudo caído.

Toda a gente sabe que os pinheiros ardem todos os anos. Toda a gente sabe que o mato não serve para nada senão para atear fogos. Mas se se fala em fazer campos de golfe em pinhais ou em substituir uma zona de mato por um simpático e útil campo de golfe, isso nunca, até porque gastam água. Infelizmente até nisso temos azar, porque os fogos ainda gastam mais e toda no Verão, que é quando faz falta. Quase que apetece fazer uma proposta. Deixem-nos fazer campos de golfe em algumas áreas ardidas e nós comprometemo-nos a torná-las verdes para sempre. Esta proposta tem porém, três defeitos: primeiro, poderia levar as pessoas a pensar que somos nós que ateamos os fogos. Segundo, faria baixar drásticamente o número de fogos nas zonas onde houvesse campos de golfe e se calhar estávamos a prejudicar gente que tem mesmo interesse em não acabar com eles. Por último estávamos a retirar argumentos aos políticos para dizerem mal uns dos outros.

Seja como for, são esses mesmos políticos que queremos convencer que mais vale construírem-se uns míseros 100 campos de golfe em Portugal, do que andar todos os anos a regar 36 mil incêndios por esse país fora.

É mais limpo, mais saudável e muito mais rentável.

 


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Revised: 09-11-2000.