Revista de Imprensa

O Algarve e o Golfe

Por, António Carmona Santos

 

É do conhecimento geral que o Algarve se identifica com o jogo do golfe. Tem a maior concentração de campos de Portugal - presentemente 16 - e ainda que tal número se possa considerar um pequeno núcleo em termos internacionais (mesmo aqui ao lado, na vizinha Andaluzia, existe mais do que o dobro), esse facto já lhe vem dando o direito de ser considerado como um "destino de golfe". Em termos comerciais tem razão de ser : o golfe é, depois da praia, o factor que mais contribui para atrair visitantes e promover a hotelaria local. Para além disso, gera só por si muitos milhões de contos de receitas e movimenta todo um conjunto de actividades nucleares. O golfe atrai ao Algarve 200.000 jogadores por ano de vários países do mundo - sobretudo da Europa - e é regularmente praticado por alguns dos milhares de residentes estrangeiros que vivem com uma certa permanência no Algarve.
 

Então e os Algarvios? Como é que uma actividade tão importante para a região lhes passa ao lado? Estão filiados na Federação Portuguesa de Golfe menos de 200 jogadores portugueses com base no Algarve! Quer se queira quer não, o núcleo de desenvolvimento do golfe passa pelos clubes, pelas Associações regionais (quando isso o justifica) e pela Federação. Se qualquer modalidade desportiva necessita de um bom enquadramento, no caso do golfe esse aspecto tem ainda mais razão de ser porque para o praticar oficialmente é indispensável ter um abono (handicap) oficial - que por sua vez só pode ser concedido por um clube filiado e assim ser reconhecido pela Federação Portuguesa de Golfe.
 

Alguma coisa vai mal no reino do Algarve! Isto para não dizer no de Portugal. Como é que o desporto mais praticado naquela zona, um desporto que está a ter crescimentos explosivos em toda a parte do mundo não interessa aos algarvios? Seria o mesmo que dizer que os suíços ou os austríacos não praticavam ski ou que os havaianos não faziam surf. Muitos de nós somos do tempo, não muito longínquo, em que os portugueses, na sua grande maioria, não iam à praia. Hoje isso parece quase impossível. Com o golfe, estamos convencidos que se vai passar o mesmo.
 

A culpa do boom ainda não se ter verificado não é, evidentemente, dos portugueses e, neste caso, dos algarvios. Para se praticar seja o que for, é necessário ter locais e estruturas apropriadas à disposição. O golfe apareceu no Algarve para servir a hotelaria e mais tarde a promoção imobiliária, sendo dirigido exclusivamente ao mercado externo. Para os hoteleiros, era indispensável encontrar um meio de aumentar as taxas de ocupação - demasiadamente dependentes da praia e, portanto, dos meses de verão. O sector imobiliário (sobretudo o dos promotores mais evoluídos) entendeu também que o golfe lhe daria um bom argumento de promoção, tendo ainda a vantagem de rentabilizar zonas verdes que teriam de ser mantidas de qualquer modo…
 

Todo este cenário é compreensível, mas significa começar pelo fim. O natural é que uma actividade se desenvolva de dentro para for a. Que comece por interessar quem está mais perto e só depois se lance na conquista de mercados externos. O golfe em Portugal não se desenvolveu de acordo com tal modelo. Seria muito longo e não cabe aqui dissecar todos os motivos de ordem económica, social e até política que o determinaram. Estamos convencidos que há toda uma conveniência em emendar essa situação tão depressa quanto possível - por muitos motivos, incluindo os económicos.
 

O golfe é uma actividade económica importantíssima para Portugal e para o Algarve, mas só se pode desenvolver para além do que foi realizado até ao momento se for baseado na verdade desportiva. Sem o interesse directo da população, sem o contributo do mercado interno, sem a sua pressão sobre as autoridades e responsáveis políticos locais e nacionais, o golfe não deixará nunca de ser considerado um mal necessário para uso externo. Estará sempre à mercê dos ataques dos ecologistas mal informados ou de observadores desatentos com complexos sociais que continuaram a classificá-lo como um desporto para os senhores ricos.
 

A realidade é outra. E quanto mais depressa nos adaptarmos a ela, mais depressa colheremos os benefícios. A economia nacional e especialmente a do Algarve - com os seus diferentes agentes económicos, sociais e desportivos - tem tudo a ganhar com o desenvolvimento do golfe. Só com uma modalidade firmemente implantada junto da população será possível promover um crescimento sustentado.
 

Baseadas num forte mercado local, as explorações actuais poderão desenvolver-se harmoniosamente, com ocupações equilibradas, dando assim lugar ao aparecimento de novos campos mais simples e mais económicos - o que permitirá poderem ser utilizados por muito mais gente e a preços razoáveis. Quanto mais campos houver e mais variados forem, maior será a sua utilização pela população local. Não é necessário construir somente campos de luxo ou, como se costuma dizer, de campeonato. O que precisamos para promover o golfe são campos de concepção simples e barata. Campos de 9 buracos construídos junto a povoações com razoável densidade populacional. Locais como Faro, Portimão ou Albufeira seriam escolhas perfeitas para se dar início a esta nova fase do golfe em Portugal.
 

Têm a palavra as Câmaras Municipais e os empreendedores locais. Têm a palavra os proprietários de campos e as autoridades ligadas ao turismo e ao desporto. Têm a palavra a Federação Portuguesa de Golfe e as Associações Profissionais, que só podem crescer se e quando isso acontecer.
 

Quando existir uma actividade de golfe desenvolvida e apoiada em muitos milhares de praticantes, haverá a garantia de rentabilizar as explorações de uma forma harmoniosa, haverá apoio político para crescer mesmo contra o ataque de alguns adversários, haverá um vasto campo de recrutamento de profissionais competentes, sem ser necessário recorrer - como agora - à oferta externa.
 

E aí teremos, enfim, criado uma forte actividade económica e recreativa para a qual o Algarve tem condições naturais de excepção.

 

Golfe Europeu nº 39 Ago/Set 1997


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Revised: 09-11-2000.